
O silêncio do apetite: especialista explica por que não conseguimos parar de pensar em comida. (Foto: Instagram)
Por muito tempo, milhões de pessoas conviveram com um incômodo difícil de nomear: pensamentos insistentes sobre comida, mesmo na ausência de fome. Esse fenômeno agora é conhecido como “food noise” — ou ruído alimentar — e está mudando a forma como a obesidade é compreendida pela medicina.
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A endocrinologista Marina Karam, especialista no cuidado de pessoas com obesidade, explica que esse tipo de pensamento é involuntário e constante. Mesmo após uma refeição, a mente continua voltada para a próxima comida, o que interfere na rotina, produtividade e bem-estar emocional.
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Segundo Karam, o food noise deve ser reconhecido como um sintoma da obesidade, assim como a dor é sinal de inflamação. Trata-se de uma manifestação de desequilíbrios neuro-hormonais e metabólicos, e não de falta de força de vontade. Ela relata que muitos pacientes vivem com esse “rádio mental” ligado em comida, o que prejudica a qualidade de vida.
Esse padrão se manifesta em situações cotidianas: pensar no almoço durante o café da manhã, desejar doces sem motivo, ou sentir urgência em comer mesmo sem fome física. Esses pensamentos surgem de forma automática, sem controle consciente.
O termo ganhou visibilidade com a popularização de medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, usados para tratar diabetes e obesidade. Muitos pacientes relataram que, ao iniciar o uso dessas substâncias, o ruído alimentar desapareceu — revelando que o problema talvez tenha origem neurológica e possa ser tratado.
Estudos internacionais apontam que o food noise também pode estar relacionado à cultura de dietas restritivas, culpa ao comer e estresse. Os agonistas de GLP-1 atuam reduzindo o apetite e o desejo recompensador por comida, o que ajuda a silenciar temporariamente esse ruído.
No entanto, ao interromper o tratamento, o ruído costuma retornar. Por isso, especialistas recomendam aproveitar esse período de alívio mental para desenvolver novos hábitos alimentares e emocionais. Estratégias como refeições equilibradas, planejamento alimentar e redução do estresse são eficazes.
Por fim, Marina Karam reforça que o food noise não é culpa individual, mas um sinal do corpo. Reconhecê-lo como um sintoma permite buscar ajuda adequada e restaurar o equilíbrio entre prazer, nutrição e saúde mental.


