Desde o início da novela “Três Graças”, o sotaque adotado por Murilo Benício para interpretar o vilão Ferette tem causado incômodo. Apesar de sua experiência e habilidade em construir personagens complexos, o ator parece travado por uma escolha vocal que não se encaixa na narrativa. O “R” excessivamente puxado soa artificial, sem conexão com qualquer regionalismo específico ou justificativa dramática, o que compromete a naturalidade das cenas e a fluidez de sua atuação.
Esse estranhamento fica ainda mais evidente quando comparado ao personagem Rogério, vivido por Eduardo Moscovis, que mantém seu sotaque carioca sem que isso cause qualquer ruído na trama. A discrepância levanta questionamentos sobre a necessidade da imposição feita a Benício, especialmente porque, em novelas, essas decisões geralmente vêm da direção e não são escolhas espontâneas dos atores.
A insistência em manter esse sotaque forçado parece uma teimosia criativa que prejudica a entrega de um ator reconhecidamente competente. O público, sensível às nuances da interpretação, percebe essa desconexão. A novela, que apresenta boas tramas e ritmo envolvente, acaba tendo sua harmonia comprometida por esse detalhe vocal que destoa do restante da produção.
A crítica sugere que já passou da hora de revisar essa escolha, que mais atrapalha do que contribui para a construção do personagem. Em um produto tão coletivo como a telenovela, decisões isoladas que não servem à obra como um todo merecem ser repensadas — especialmente quando impactam negativamente a percepção do público.


