Em seu segundo mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou uma política comercial baseada em tarifas bilaterais, ignorando blocos multilaterais como o Brics. Desde o anúncio do “tarifaço” para 1º de agosto, os EUA já firmaram acordos com Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas, Japão e um acerto preliminar com a China. As tarifas variam entre 10% e 30%, com concessões comerciais significativas por parte dos países que aceitaram os termos.
O Brasil, no entanto, segue sem acordo e sob risco de sofrer uma tarifa de 50%, o que pode impactar fortemente suas exportações. A estratégia de Trump enfraquece a atuação coletiva do Brics, isolando o país sul-americano. Segundo o economista Maurício F. Bento, professor da Hayek Global College, Trump despreza o multilateralismo e vê o Brics como ameaça à hegemonia dos EUA e do dólar.
Bento alerta que, com a adesão individual de membros do Brics a acordos bilaterais, o Brasil perde força política e aliados para resistir às imposições norte-americanas. Ele também destaca que o Brasil corre o risco de ser usado como exemplo dissuasório, caso continue sem negociar. “Não é prudente ficar por último na fila”, afirma.
Além das tarifas, os EUA demonstram preocupação com o avanço de ferramentas financeiras como o Pix e com a regulação brasileira sobre big techs, que contrariam interesses americanos.
Apesar de Trump ter conseguido impor condições favoráveis aos EUA no curto prazo, especialistas alertam para os riscos de médio e longo prazo. A imprevisibilidade nas regras e a possibilidade de mudanças bruscas com a alternância de poder nos EUA podem minar a confiança internacional no país. “Os EUA parecem estar minando o livre comércio mundial, algo que ajudaram a construir no século passado”, conclui Bento.
O Brasil consta entre os países que receberam cartas formais dos EUA sobre as novas tarifas, mas ainda não avançou em negociações. A postura do governo brasileiro frente à nova política comercial de Trump será decisiva para seu futuro nas relações econômicas internacionais.