Uma operação da Polícia Federal (PF), deflagrada em Castanhal (PA) dois dias antes das eleições municipais de 2024, revelou um escândalo de corrupção envolvendo o deputado federal Antônio Doido (MDB-PA), seu entorno e contratos milionários da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), prevista para ocorrer em Belém.
A investigação teve início com a prisão em flagrante do tenente-coronel da PM Francisco Galhardo, que foi flagrado com R$ 5 milhões em espécie, sendo R$ 380 mil entregues a Geremias Hungria, funcionário de uma fazenda do deputado. A partir da análise do celular de Galhardo, a PF descobriu indícios de compra de votos e movimentações financeiras milionárias, que ligaram o policial ao deputado Antônio Doido.
Entre 2023 e 2024, Galhardo sacou R$ 48,8 milhões de contas de duas construtoras: a J.A Construcons, da esposa de Doido, Andréa Dantas, e a JAC Engenharia, ligada a Hungria. Ambas venceram licitações da COP30 que somavam quase R$ 300 milhões. A Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta que ao menos uma dessas licitações, no valor de R$ 142 milhões, apresenta fortes indícios de corrupção.
Mensagens encontradas no celular do PM mostram trocas com o secretário de Obras do Pará, Ruy Cabral, no mesmo dia em que o consórcio das empresas venceu a licitação. As conversas sugerem entrega de dinheiro, inclusive com menções a Andréa, esposa do deputado, como intermediária.
Diante das evidências, a PGR solicitou ao STF a abertura de inquérito contra Doido, sua esposa, Galhardo e Ruy Cabral por corrupção ativa e passiva, entre outros crimes. A Procuradoria afirma que o grupo integra uma organização criminosa voltada ao desvio de recursos públicos e fraudes em licitações.
O governo do Pará afirmou que revogou a licitação em dezembro de 2024, negou irregularidades e disse que o secretário Ruy Cabral não recebeu valores nem foi notificado de investigação. Já a defesa de Antônio Doido repudiou o vazamento das informações e declarou que o deputado está à disposição da Justiça.
A investigação segue em curso no STF, sob relatoria do ministro Flávio Dino.